segunda-feira, 28 de junho de 2010

O dia mais longo

É cada vez mais difícil gravar dentro do estádio. À medida em que a Copa vai afunilando, a segurança aumenta e os lugares vazios no estádio ficam cada vez mais raros. E como nossa credencial dá acesso às arquibancadas mas não permite que a gente grave lá dentro e nem nos garante assentos, temos que nos virar pra conseguir um bom material.
Ontem no jogo da Argentina, além do frio quase polar, essa era nossa maior dificuldade. Mandamos o que conseguimos ainda ontem, já que o programa vai ao ar hoje. Cheguei no hotel esgotado às 3 da matina.
Hoje promete ser o dia mais longo e penoso da viagem. Pela primeira vez desde que chegamos, o dia amanheceu nublado, promessa de uma noite de graus negativos no Ellis Park. O jogo do Brasil tem que entrar no programa desta segunda, e vamos ter que fazer um esquema ninja pra conseguir mandar o material a tempo. Temos também que fazer 3 entradas ao vivo na Band antes do jogo, terminar a ação secreta e ainda cobrir a coletiva da Argentina em Pretoria, que fica a 1h daqui. Sou eu que vou.
Tenho certeza que vai valer a pena. O programa de hoje está imperdível.

domingo, 27 de junho de 2010

Miami x Mongaguá

Vinte e tantos dias depois, com o quartinho pra 2 ficando cada vez menor, saímos de Joburg pela primeira vez. A falta do que fazer quando não estamos gravando, o frio, o ar seco e a poeira que estraga o nariz e garganta ficaram para trás, pelo menos por um par de dias.
Durban é uma mistura de Miami com Mongaguá. Tem um visual bonito, uma praia grande, com ondas boas, aquele clima diferente de litoral e um calorzinho digno de bermuda e chinelo durante o dia. Mas de noite, quando o vento começa a bater e pedir tênis e jaco, a atmosfera muda. Na rua só fica doidão, circulando de um lado pro outro, oferecendo nice marijuana e white powder. Entre os locais, muito indiano e árabe. Pelo menos ali perto da avenida da praia, onde ficava o nosso hotel.
Chegamos às 11 da noite, deixamos as coisas no hotel e fomos tomar uma ali do lado antes de dormir.
No dia seguinte, sexta, acordamos, festejamos o calor e fomos gravar umas coisas na praia. Sol, clima de festa, um monte de brasileiro e português empolgados com o jogo. Com muito boa vontade, além de um pouco de saudade, o rolê no calçadão me lembrou Barceloneta. Mas já estava na hora de comer alguma coisa e ir pro estádio.
O estádio de Durban é simplesmente lindo. Mais que o Soccer City. Moderno e sultuoso, deixou todo mundo arrepiado quando entramos e vimos como ele é por dentro. Era o primeiro jogo do Brasil de dia, a gente ainda não tinha as credenciais de volta e por isso não podia gravar. Então concentramos tudo na tal ação secreta, e dessa vez deu pra sentar e assistir o jogo como torcedor, ainda que, pelo desinteresse dos dois times, a pelada não merecesse tanta atenção.
Deu tempo de ver o pôr-do-sol lá de dentro antes de voltarmos pro hotel com a missão secreta cumprida, celebrando a dádiva que é poder respirar um ar mais úmido. Agora estamos de volta à poeira de Joburg prestes a ver los pinche xicanos chingando los reputisimos argentos, wey. No mames, cabrón!

sábado, 26 de junho de 2010

Livin' on the edge



Minha história é longa e começa no dia do jogo entre Brasil e Costa do Marfim. Chegamos bem cedo ao Soccer City com a missão, designada pelo Alto Clero, de fazer de tudo para procurar, encontrar o Galvão Bueno e conseguir alguma declaração sobre o calaabocagalvao.
A saga começou umas 4 horas antes do jogo. Logo no começo, trombamos o ator Cássio Reis e o ex-capitão Cafu. Bons personagens para compor a matéria. Depois, demos início à grande caça pelos corredores do estádio. Primeiro tentamos encontrá-lo na área dedicada à imprensa, de onde narradores, comentaristas e jornalistas em geral acompanham o jogo. Nossa credencial não dá acesso a esse setor, mas ali soubemos através de conhecidos que a Globo tem um estúdio de vidro só dela, assim como a Band. Mas se nem no setor de imprensa conseguimos entrar, imagine nos estúdios mais pimp do estádio.
Durante esse impasse, no portão de entrada dos estúdios, encontramos Mauro Silva, Mauro Betting, Marcos Frota e William Wack. Mais recheio pra nossa história. Resolvemos então ligar para um broder da Band tentar botar a gente pra dentro. Rolou.
Ele nos mostrou onde era o estúdio da Globo. O de número 2. O Rafa bateu na porta e abriu. Galvão, Casagrande e José Roberto Wright olharam com uma cara de espanto, e logo veio uma funcionária fechar a porta e mandar a gente sair. Um representante da Fifa percebeu o movimento e veio reclamar da nossa presença ali, quanto mais com uma câmera e um microfone. Demos um migué e continuamos ali na miúda.
De repente a porta do estúdio 2 se abre. Não era o Galvão, mas o Casagrande. Falamos com ele. Aí passou o Bebeto, comentarista da Al Jazeera. Falamos com ele também. O cara da Fifa já estava furioso quando o Galvão teve que sair para mijar. Era tudo que a gente precisava para fechar a matéria com chave de ouro, e fechamos. Ele foi atencioso e falou tudo que a gente precisava.
Saímos de lá com a alma lavada e a sensação de dever cumprido. Fomos correndo até o carro para preparar uma ação secreta que o CQC vai mostrar na outra segunda. Voltamos pro estádio e seguimos com essa ação até o intervalo, quando recebo uma ligação. A chefia tinha visto que Blatter e Zidane estavam nas tribunas e nos mandaram ir atrás. A contragosto, tivemos que cancelar a ação no meio, correr até o carro de novo e voltar para uma missão bem mais difícil e arriscada que o Galvão.
Encaramos mais aquela com sangue nos olhos e, não me pergunte como, depois de 20 minutos estávamos eu, Rafa e Tutu no camarote mais treta, mais vip e mais teoricamente inacessível do estádio.
A poucos metros da gente estavam Zidane, Platini, Ricardo Teixeira, Blatter e Zuma, presidente da África do Sul. A gente demorou para entender como a segurança da Fifa e a guarda nacional do presidente podem ser tão frágeis diante da malandragem sul-americana (Brasil sil siiiil). Se eu fosse um terrorista, teria matado todos de uma vez sem alguém sequer ter perguntado meu nome ao longo de todo o caminho até eles.
Ainda espantados com a facilidade e com a oportunidade de conseguir um material foda, resolvemos ficar na encolha até o jogo terminar. Quando o juiz apitou, quem saiu primeiro e passou na nossa frente foi o presidente Zuma. Ligamos a câmera, sungun na cara do homem, fizemos a entrevista, ele riu e falou que ia sambar se o Brasil ganhasse a Copa. Quando viramos de costas para ir embora, uma rapa de uns 10 seguranças da guarda nacional nos seguraram pelos braços.
A cena chamou a atenção do camarote inteiro. Teixeira, Blatter e Andrés Sanchez olhavam com ar de reprovação. Como se não bastasse tudo isso, os seguranças do presidente eram uns primos do Osama com pinta de terroristas que fizeram o Tutu suar e tremer feito uma criança apavorada. O approach foi sinistro. Era meu momento profissional mais extremo. Fomos no limite, furando a segurança da entidade máxima do futebol em plena Copa do Mundo, a guarda do presidente anfitrião. Com o orgulho ferido e cabeças a prêmio, os seguranças foram impiedosos. Nos pediram a fita. A mesma fita que tinha toda a matéria do Galvão, que por falta de experiência eu não tinha trocado antes de entrar no camarote, tamanha a adrenalina e a velocidade dos acontecimentos.
O tom era ameaçador. Falavam que iam nos prender. Nessa hora imaginei a gente resistindo ao máximo, deixando os caras ainda mais putos e forçando eles a nos levar pra um quartinho. Estamos em outro país, as leis são outras, a gente tinha desafiado a guarda presidencial, enfim. Eles iam achar a fita de qualquer jeito, e endurecer podia tornar as coisas muito piores.
Chamei o Tutu discretamente e pedi pra ele me dar a fita. Dei uma fita zerada de volta. Entregamos essa fita pros caras e é claro que eles deram um play na câmera. Quando viram que não tinha nada, ficaram mais putos e nos deram o ultimato. Tivemos que entregar a fita certa e, logo em seguida, uma oficial da Fifa confiscou nossas credenciais. Resistimos até quando pudemos, mas fomos obrigados a ver nosso trabalho do dia inteiro jogado fora, além das credenciais, que é o que há de mais precioso por aqui.
O baque foi forte. Senti o peso do mundo nas costas. Brigas entre todos, discussões para dizer de quem foi o erro, se ele de fato existiu, ou se esse é o risco que a gente corre por trabalhar sempre no limite. O custe o que custar dessa vez custou. Chefia e produtor, produtor e repórter, chefia e Band, Band e Fifa, todas as relações se desgastaram. O stress foi tanto que não tive vontade de escrever nada desde então. Mas ainda havia uma esperança: em um papo de brimo pra brimo, eu pedi o telefone do chefe de segurança do presidente, que levou a minha fita. O nome dele é Mohammed e foi o próprio que marcou o seu número de telefone no meu celular.
Bom, no final das contas, após 5 dias de negociação, diplomacia e muita conversa com o anjo da guarda, recuperamos a fita e as credenciais. E eu a vontade de escrever pra contar a história que talvez um dia conte com mais detalhes para os meus netos.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Los hermanos

Até agora, o jogo mais legal de ver foi Argentina x Coréia do Sul. Não só pelo jogo, mas pela festa na porta e dentro do estádio. Há alguns meses eu disse que a Argentina seria campeã, sem nenhum motivo especial a não ser um apurado sexto sentido futebolístico. E ainda continuo achando o mesmo.
O tempo passa, os jogadores mudam, mas no fim das contas a Copa do Mundo reserva poucas surpresas na hora de entregar a taça. Tudo bem, sempre tem umas zebras na fase de grupos, que conseguem até ir longe, mas nunca chegam ao título. Não tem jeito, é sempre o mesmo quarteto que se garante: Brasil, Argentina, Alemanha e Itália.
Que me desculpem França, Inglaterra e Espanha, mas vocês fazem parte do segundo escalão, ao lado de Holanda e Portugal. Ingleses e franceses aproveitaram a vantagem de jogar em casa e faturaram uma vez, mas juntos ainda têm menos títulos que o Uruguai, que convenhamos, já deixou de ser grande há meio século.
Ojos con los hermanos. Quero estar errado, mas tô achando que dessa vez tá pra eles.

terça-feira, 15 de junho de 2010

-8 degrees

A estreia do Brasil era para ser o ponto alto até aqui, mas deu tudo errado no 13º dia de viagem. Atritos internos, cansaço e um frio que eu nunca tinha sentido na vida não me deixaram curtir o jogo. Simplesmente passou batido. No final, ainda quase fomos grampeados pela Fifa por estar gravando nas arquibancadas.
Na boa, com sensação térmica de -8 não dá. Vou tentar dormir.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Países baixos



A missão de hoje era chata: ir pro Soccer City assistir Holanda x Dinamarca e fazer uma pauta infantil, machista e engraçadinha com as loirinhas dos sonhos que certamente iríamos encontrar. O Rafa ficou com uma placa onde tava escrito "free kisses", e deu muito certo. Todo mundo parava pra dar um selo, e ele não recusava. Tinha umas gatinhas no meio, mas ele tomou beijo de homem, de baranga, de tia e até de um véio bigodudo zuado.
Quando entrei no Soccer City pela primeira vez, fiquei impressionado. O estádio é muito grande, muito alto, e estava predominantemente laranja. Solzinho na cara (deu até pra tirar um bronze), Budweiser na mão e uma rapa de umas 40 holandesas dos sonhos de minissaia, pulando, cantando, todas juntas. Deu pra pensar em um monte de coisa ali...
Fizemos uns contatos, mas dentro do estádio é embaçado gravar. Não podemos ficar na arquibancada, porque atrapalhamos quem quer assistir o jogo e não temos ingresso, e nem fazer imagens do jogo. Então fazer o que, me vi obrigado a assistir o jogo tomando uma.
Essa matéria entra só na segunda que vem. Hoje o CQC completa 100 programas com muita classe. O programa de hoje tá muito bom, queria poder assistir daqui, mas a essa hora estarei no estúdio da Band fazendo o link ao vivo. Assiste ae!

domingo, 13 de junho de 2010

Galo na cabeça

Se tivesse jogo do bicho na África, não pensaria duas vezes antes de apostar no galo. Em um dia de folga sem nenhum jogo para cobrir, o que aconteceu de mais emocionante foi o acidente ridículo que rolou no ap dos caras.
Eu tava falando alguma coisa na varanda, quando dei meia-volta pra sala e dei de cara no vidro da porta, que tava fechada e eu não vi. Haha!
Meti a cabeça e o joelho no vidro com a violência de um Argentina x Uruguai. Se tivesse uma câmera em slow motion, pegaria o vidro fazendo a dança do ventre depois da porrada. O filho da puta resistiu bravamente e não quebrou, mas meu joelho e minha cabeça estão sentindo os efeitos até agora.
Um galo na testa e uma dor na rótula toda vez que piso com a perna direita serão as únicas recordações deste domingo.